Obesidade? Celulite? Não, é Lipedema. No Brasil cerca de 5 milhões de mulheres sofrem com o lipedema, que só agora, em 2022, foi incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID).
Muito confundida com obesidade pelo visual de gordura nos braços, quadris e pernas, o lipedema não era classificado formalmente como doença, o que dificultava a procura por ajuda, principalmente na rede pública. Estima-se que uma em cada dez mulheres tenha a doença no mundo e, no Brasil, cinco milhões podem estar convivendo com ela sem saber. A nova Classificação Internacional de Doenças (CID 11), que passou a vigorar em 1º de janeiro de 2022, foi anunciada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com a inclusão do lipedema, um problema de saúde que não tem cura, mas tem tratamento.
Você, provavelmente, nunca ouviu falar sobre o Lipedema, mas, com certeza, já viu alguém que sofra com ele. Alguém que não entenda o porquê das pernas se mostrarem desproporcionais ao restante do corpo, que o cansaço físico por conta das pernas pesadas não permita realizar atividades cotidianas. Alguém que mesmo com dietas restritivas e exercícios físicos regulares não consiga eliminar a gordura localizada nessa região. Alguém que já procurou ajuda médica e saiu com diagnóstico de Obesidade ou Linfedema, ou pior, sem esperança de tratamento.
O Lipedema é uma doença progressiva em que existe um excesso de gordura com crescimento anormal e desproporcional em determinada região do corpo. Geralmente acomete pernas, coxas, quadris e em alguns casos, os braços.
É uma doença que atinge em sua maioria a população feminina. Muitas dessas pacientes relatam dores e início dos sintomas na puberdade. Sabe-se que picos hormonais como gestação, menarca e uso de anticoncepcional podem desenvolver ou agravar o quadro.
Junho é o mês de conscientização do lipedema, doença muito comum, porém deixada em segundo plano nos cuidados com a saúde da mulher – uma patologia quase que exclusivamente feminina que em 2021 atingia mais de 11% das mulheres em todo o mundo.
Causas e sintomas
Por mais curioso que pareça, não existem muitos estudos claros e conclusivos sobre o que causa esse acúmulo de gordura excessiva nas pernas e braços.
Suspeita-se que haja causa genética e que fatores metabólicos, inflamatórios e antes de tudo hormonais possam influenciar.
Alguns sintomas:
- Dor em tecido mole, ao caminhar ou em repouso e sensibilidade ao toque.
- Fragilidade capilar, ou seja, hematomas frequentes.
- Excesso de gordura nas pernas, coxas, braços e o não acometimento dos pés ou mãos até certo estágio.
- Marca anelar acima do tornozelo.
- A textura da pele é borrachosa e com excesso de celulite.
- Em alguns casos apresentam uma bolsa gordura abaixo do joelho;
- Não apresentam grandes mudanças com dietas ou exercícios.
O Diagnóstico
O diagnóstico é clínico. A partir de uma anamnese completa e avaliação física realizada pelo médico. A relação médico-paciente é de extrema importância neste momento. O médico tem que entender o que a paciente está dizendo e qual é sua necessidade.
São queixas características de uma paciente que sofre com o Lipedema: Dores fortes, piora progressiva, os membros afetados não respondem a dietas, pernas desproporcionais ao resto do corpo. A autoestima dessa paciente está comprometida e a dificuldade em realizar atividades cotidianas pioram esse sentimento.
Estágios da doença
Quando falamos do Lipedema, estamos falando de uma doença que atinge alguns estágios:
Estágio I – Superfície da pele de aparência normal com subcutâneo em forma de nódulos palpáveis. Drenagens e alimentação regrada podem aliviar alguns dos sintomas.
Estágio II – Apresenta pele irregular e endurecida, com acúmulo de gordura em forma de nódulos. Em alguns casos apresentam dores. Hematomas são frequentes.
Estágio III – Grandes acúmulos de gordura, com deformidades na superfície
da pele. Dores e hematomas são frequentes.
Estágio IV – Grandes deformidades de pele e gordura associado a edema (conhecido como lipo-linfedema). Hematomas frequentes. Dores fortes na maioria dos casos. Dificuldade de andar.
Quando não tratado, os sintomas podem aumentar ao longo dos anos. O diagnóstico precoce de um médico especialista e o início de tratamento adequado são extremamente importantes para evitar uma progressão da doença.
Tipos de Lipedema
Além da classificação por estágios, o Lipedema também pode ser classificado por localização anatômica.
A doença pode acometer somente braços, pernas ou quadril.
Existe uma classificação para entender melhor cada tipo de Lipedema e ela é dividida da seguinte forma:
- Tipo I: Acomete nádegas e quadril.
- Tipo II: a gordura se distribui nos joelhos e coxas.
- Tipo III: a gordura se forma em coxas, joelhos e panturrilhas
- Tipo IV: o lipedema atinge os braços.
- Tipo V: a gordura se acumula somente nas pernas, abaixo do joelho
O médico cirurgião Dr. Fábio Kamamoto, fundador do Instituto Lipedema Brasil ,
em São Paulo, explica que o tratamento para o lipedema pode ser clínico ou cirúrgico. O primeiro envolve dieta anti-inflamatória, procedimentos de fisioterapia para melhorar o desconforto e outras ações tópicas. Segundo o especialista esses procedimentos amenizam os sintomas, mas não resolvem o problema porque não extraem as células doentes. Já o cirúrgico é feito com lipoaspiração e é definitivo. Uma vez removida, esta gordura não volta mais.
O Instituto Lipedema Brasil luta pela democratização do acesso ao tratamento da doença no Brasil, como já acontece em outros países. A cirurgia tem um custo elevado e ainda não está disponível no SUS nem é coberta pelos convênios.
O fato de ser inserido no CID dá um reconhecimento mundial como doença, mas ainda precisa ser regulamentado em cada país. “Por isso, é importante falar sobre esse assunto, para que haja visibilidade sobre o tema e sejam criadas políticas públicas para assegurar o direito ao tratamento também para as mulheres carentes”, completa o Dr. Fábio Kamamoto.
- Fontes:
– Revista Metrópole / Jornal Correio Popular – Campinas – https://correio.rac.com.br/
– Instituto Lipedema Brasil – https://www.institutolipedemabrasil.com.br/
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