A Gurgel na vanguarda do carro elétrico brasileiro

Gurgel, um nome que é reverenciado por muitos no Brasil é a síntese do sonho de uma montadora totalmente nacional. A Gurgel na vanguarda do carro elétrico brasileiro é pura inspiração para o setor. Enquanto muitos países – alguns tão pequenos quanto os menores estados brasileiros e outros com mercados inferiores aos de algumas de nossas grandes cidades – possuem suas próprias marcas, o Brasil ainda se recente da falta de um fabricante de automóveis de capital e origem nacionais.

O início de tudo
A Gurgel foi fundada em 1 de setembro de 1969 pelo falecido engenheiro mecânico e eletricista João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, um homem a frente do seu tempo, que sempre sonhava com um carro genuinamente brasileiro. Gurgel começou produzindo karts e minicarros para crianças no começo dos anos 60, quando tinha uma empresa de luminosos.

João Augusto Conrado do Amaral Gurgel era um dos brasileiros que desejavam ver uma marca nacional estampada em veículos feitos em solo pátrio, oferecendo ao consumidor um produto que, dentre outras características, ele poderia orgulhar-se de ter na garagem. E foi assim que tudo começou para a Gurgel, um sonho.

Em 26 de março de 1926, nascia em Franca, interior de São Paulo, um menino que ficaria para sempre na história do automóvel no Brasil e no mundo. Desde jovem, o João sempre sonhou com um carro nacional. E foi essa ideia que o fez entrar na Escola Politécnica de São Paulo.

Em 1949, Gurgel se formava na Escola Politécnica de São Paulo. Seu projeto de conclusão da graduação era um carro popular que atendesse as necessidades brasileiras.

O nome era sugestivo: Tião. Reza a lenda que seu orientador jogou um balde de água fria na ideia mirabolante falando que “carro não é algo que se fabrica, carro se compra”. Gurgel apresentou uma proposta de guindaste para finalizar seus estudos. A ideia do automóvel, no entanto, nunca saiu de seu imaginário.

A insistência de Gurgel

O tempo passou e João Conrado começou a produzir miniveículos para crianças, karts e alguns protótipos de carros elétricos. Ainda assim, João queria mesmo é fabricar automóveis e seu passo definitivo nessa jornada seria dado em 1969, quando funda em Rio Claro, também no interior de São Paulo, a Gurgel Motores S/A.

O empreendedorismo realizando sonhos
A primeira aparição pública de um produto Gurgel ocorreu em 1966, anos antes de iniciar a empresa de fato. Foi no Salão do Automóvel com um bugue feito sobre mecânica Volkswagen, chamado Ipanema.

Outro modelo criado foi o utilitário Xavante XT, cuja produção começou em 1970. Ao contrário do anterior, era fabricado com chassi de aço tubular e plástico feito pela própria empresa e chamado Plasteel, além de carroceria de fibra de vidro, que seria o material mais usado pela recém-criada montadora brasileira ao longo de sua história.

Gurgel Ipanema

Gurgel na vanguarda

O Selectraction era uma novidade que garantia um bom desempenho off-road. A tecnologia da época consistia, por meio de alavancas, em frear a roda que patinava, por exemplo, e transferir a força para a outra roda com mais aderência e assim vencer o obstáculo – o que faz o diferencial nos dias atuais ou o sistema Locker da Fiat.

João Conrado Gurgel: um visionário?

Gurgel sempre pensava além de sua época e os veículos elétricos eram uma prova de que no futuro este segmento alcançaria níveis mundiais.

Em 1974, João Conrado cria o modelo Itaipu, cujo nome era uma homenagem à maior hidrelétrica do mundo na ocasião, feita entre o Brasil e o Paraguai. O veículo originou mais tarde o E400 em 1980, que também derivou o G800 a gasolina.

Gurgel Itaipu

Com a Crise do Petróleo, Gurgel deu ênfase ao projeto dos elétricos, mas não podia deixar os carros a gasolina de lado. O projeto Xavante obrigou o Exército Brasileiro a testá-lo e logo depois surgiu o X-12. Com partes da estrutura em plástico reforçado com fibra de vidro, dando assim leveza ao conjunto, aliado à boa mecânica Volkswagen, fez do utilitário um sucesso.

Gurgel Xavante

Década de 1980

No dia 24 de junho de 1980 a Gurgel lançava sua pedra fundamental da fábrica de veículos elétricos (um novo prédio na mesma fábrica de Rio Claro). O projeto desses veículos iniciou-se com o TU (apenas um veículo de demonstração, sem motor). A seguir, a marca lançava (em 1981), de fato, um veículo elétrico em série: o Itaipu E150. Logo depois aparecia o monovolume E400, que fora vendido para companhias estatais. Entretanto, os modelos não vingaram por terem alto custo das baterias e autonomia pequena; logo a Gurgel descontinuaria a produção de seus veículos elétricos.

Os cerca de 4 mil carros exportados para os mais de 40 países fizeram a empresa se tornar multinacional. Mas João Gurgel adorava dizer que sua marca não era multinacional, e sim “muitonacional”, pois o capital era 100% brasileiro.

Curiosidades

  • Gurgel Motores S/A instalou postes, gratuitamente, na praça principal de Rio Claro para que os carros fossem abastecidos e/ou carregados.
  • João Gurgel dôou carros para o município e a polícia;
  • Gurgel contribuiu para diversificar os negócios em Rio Claro e região. Devido ao sucesso dos carros, a cidade recebia empresários do mundo inteiro e essas visitas trouxeram a instalação do restaurante francês Chablit no coração da cidade. Os frequentadores eram servidos por garçons que usavam luvas brancas. Ocorriam verdadeiros petit comités.

O fim de um sonho
Em 1990, o governo Collor isentou os carros com motor abaixo de 1.0 litro de pagar IPI. Assim, as montadoras estrangeiras presentes no Brasil imediatamente lançaram carros com esse tipo de motorização e com preços menores que o do BR-800. Este, por sinal, passou a ser liberado para o consumidor não-sócio da empresa.

Gurgel BR800

Para piorar a situação da Gurgel, o “Muro de Berlim” que isolava o Brasil do restante do planeta foi derrubado pelo mesmo governo, que liberou finalmente a importação de automóveis.

Um Imposto de Importação de 85% não impediu que o Lada ficasse mais barato que os utilitários da Gurgel.

Em 1992 nascia o Supermini, que tinha desenho mais moderno e melhor acabamento, substituindo assim os pedidos do BR-800 ainda não entregues.

O projeto Delta era uma boa iniciativa, mas sem a fábrica não iria para a frente.

Os estados de São Paulo e Ceará não teriam honrado um compromisso com João Gurgel e a unidade cearense nunca saiu do papel. Somou-se uma greve de funcionários da Receita Federal que atrasou a chegada de componentes da Argentina e a produção da Gurgel caiu drasticamente de 1991 para 1992, o que arruinou as finanças da empresa. Em 1993, a Gurgel Motores S/A pediu concordata.

No ano de 1994, João Conrado pediu um empréstimo de US$ 20 milhões para manter a fábrica, mas o governo recusou e a falência foi decretada. Apesar disso, a empresa recorreu e ainda manteve a produção até 1996, produzindo 130 veículos no período e lançando a versão 1995 do Supermini, bem como do Motomachine e do Carajás.

O conceito Motofour foi apresentado nessa época. Ele tinha apenas um lugar e parecia mais um brinquedo do que um automóvel.
O fim da Gurgel foi um duro golpe para João Conrado. A empresa deixou dívidas de mais de R$ 280 milhões e uma fábrica que foi arruinada por vândalos e grande número de furtos de peças de maquinário e veículos. A instalação foi leiloada por R$ 16 milhões em 2007 para pagamento de dívidas trabalhistas, ficando ainda um restante de R$ 4 milhões.

Modelos produzidos

Gurgel Motores S/A

  • Ipanema (nas versões picape e QT) 1969-1971
  • Bugato 1970-1971
  • Xavante XT 1971-1975
  • Xavante XTR 1971-1975
  • Xavante XTC 1974-1975
  • Xavante X-10 1975-1977
  • X-20 1976-1979
  • X-12 1975-1988
  • Tocantins 1988-1991
  • X-15 1979-1982
  • G-15 1979-1982
  • Itaipu 1975
  • Itaipu E-150
  • Itaipu E-400 1981-1982
  • Itaipu E-500 1981-1982
  • G-800 1982-1988
  • XEF 1983-1986
  • Carajás 1984-1989
  • BR-800 1988-1991
  • Motomachine 1990-1992. Uma característica curiosa desse veículo, era a posição em que se encontrava o estepe, na traseira do lado de fora do veículo (igual ao Ford Ecosport), ideia que seria largamente utilizada em veículos de uso off-road no incio do século XXI. Outra característica pouco comum nos carros da época, mas que o Motomachine possuía era painel com regulagem de altura.
  • Supermini 1992-1995. O Supermini é a evolução do BR-800, ele foi a resposta da Gurgel aos novos 1.0 da concorrência. Em relação ao seu antecessor, ele ganhou algumas “curvas” que fizeram sua aparência melhorar, agora com um acabamento de melhor qualidade como o painel mais bem desenhado, bancos altos e melhores, interior todo acarpetado e o entreeixos 10 cm maior.

A versão SL (a mais comum) contava com equipamentos como conta-giros, relógio analógico, toca-fitas com antena no teto, brake-light, repetidores de pisca no teto, banco traseiro bi-partido e outros, enquanto seus concorrentes na faixa dos 1.0 sequer ofereciam retrovisor do lado direito ou encostos de cabeça.

João Amaral Gurgel e o Supermini

Diferentemente do BR-800, o Supermini não é 100% brasileiro, o câmbio é argentino.

Protótipos

  • BR-Van
  • Cena (ou 280)
  • Delta
  • Motofour
  • SuperCross
  • Transa
  • TU
  • Gurgel GTA

Gurgel Motores do Brasil

A Gurgel Motores do Brasil fabricou basicamente tratores e empilhadeiras e nada tem a ver com a Gurgel Motores S/A, sendo apenas o uso da mesma marca.

  • TA-01
  • FB-25
  • FD-30 CT
  • FGL-30 CTJ
  • MW 30
  • TM-25
  • TA-05

Fontes da matéria.


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